DO LIVRO FÍSICO À FALÊNCIA DIGITAL: A QUEDA DA SARAIVA

23 de outubro de 2023

A Justiça do Estado de São Paulo decretou a falência da rede de livrarias Saraiva. O pedido para a autofalência foi apresentado pela própria empresa, que, outrora, deteve o título de maior rede de livrarias do Brasil. Esse desfecho se deu no contexto de um processo de recuperação judicial, motivado por uma dívida colossal de R$ 675 milhões.

O juiz Paulo Furtado de Oliveira Filho, da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais da Capital, acatou o pedido de autofalência. A decisão teve como base o descumprimento do plano de recuperação judicial e, como consequência, determinou a suspensão de ações e execuções contra a empresa, além da exigência de uma lista de credores. O magistrado destacou que, de acordo com a legislação pertinente, o descumprimento do plano de recuperação implica na conversão automática do processo em falência.

No mês de novembro, a Saraiva havia fechado as últimas lojas físicas e demitido seus funcionários, marcando o triste desfecho de uma empresa que já contou com cerca de 100 livrarias em todo o país. O declínio da Saraiva havia começado em 2018, quando a empresa fechou 20 lojas em um único dia e, posteriormente, entrou com um pedido de recuperação judicial, revelando uma dívida de R$ 674 milhões naquele momento.

A história da Saraiva remonta a 1914, quando o imigrante português Joaquim Ignácio da Fonseca Saraiva inaugurou uma pequena livraria de livros usados em São Paulo. A partir de então, a empresa se especializou em obras jurídicas, expandindo seu catálogo para incluir didáticos e obras gerais nas décadas seguintes. Em 1947, a empresa se tornou uma sociedade anônima e adotou o nome Saraiva S.A. – Livreiros Editores. Em 1972, a Saraiva se tornou uma companhia de capital aberto.

Na década de 1970, a empresa abriu sua segunda livraria na Praça da Sé, uma das poucas que resistiu até o fechamento recente. Nos anos 1980, a Saraiva investiu na distribuição de livros e, em 1983, iniciou um processo de expansão de sua rede de livrarias, com aberturas especialmente em shoppings. A aquisição do controle acionário do Grupo Siciliano em 2008 marcou um período de rápido crescimento, com a rede alcançando mais de 100 lojas em todo o Brasil.

No entanto, a entrada da Saraiva no mercado de e-books em 2010 e a subsequente venda de seus ativos editoriais em 2015 sinalizaram mudanças significativas no cenário editorial. A empresa enfrentou desafios adicionais em decorrência da crise macroeconômica e da própria crise do mercado editorial. Em 2018, a Saraiva começou a fechar lojas e reduziu seu foco na venda de eletrônicos, culminando no pedido de recuperação judicial.

Apesar dos esforços e da história rica que remonta a mais de um século, a Saraiva não conseguiu superar os desafios e fechou suas portas físicas em 2021. Resta agora a incerteza sobre o futuro da empresa no ambiente virtual, enquanto uma parte significativa da história da principal rede de livrarias do Brasil chega ao seu término.